28 de novembro de 2019
Hoje tô atrasado. Três pés glassy sempre tem prioridade. No ponto de ônibus no dramas. O ônibus chega e vou até a estação de trem no silêncio absoluto.
Chego no trem e sento na cadeira que não tem ninguém na minha frente. Assim eu evito qualquer chance de conversa com seres humanos. Porém, uma estação antes da minha, senta um chinês do meu lado.
O trem tá vazio, mas sua sábia escolha é minha companhia. Ele traz uma mala grande que põe na minha frente bloqueando minha saída. Finjo que não vejo e entendo que num futuro próximo, quando eu levantar, ela não ocupará o trajeto de evacuação.
Errei. Chega minha estação, levanto e a mala continua lá. Respiro, olho pro chinês e a mala continua lá. Foda-se. Saio atropelando a mala, ela cai, o chinês grita, eu olho pra ele e levanto os braços mais ou menos como aquele emoji do whatsapp faz. Ele fala mais alguma coisa, mas eu já tô fora do trem.
No caminho até o escritório fico pensando:
Que chinês escroto…
Vira e mexe tem visita na àrea de TI. As pessoas olham as telas e falam: ohhh.
Já tô cansado dessa cena. De vez enquando eles apresentam a equipe aos visitantes. De vez em quando eu coloco fone antes. Hoje eu não coloquei.
- This is Di-o-go
Quando eu olho pra trás, não é que era o chinês do trem. A gente se cumprimenta e ele mostra a mala quebrada. Eu peço desculpa. Ele fica com uma cara de cú e pergunta por que eu fiz aquilo. Eu rapidamente devolvo a pergunta. O gerente que nos apresentou fica sem entender nada e chinês agora quer que eu pague outra mala pra ele.
Pego minha carteira. Tenho 20 dólares. Dou na mão do chinês e já vou saindo do escritório porque o clima ficou ruim.
Volto 30 minutos depois e meu gerente me chama perguntando o que aconteceu. O chinês já se foi. É parceiro da nossa empresa. Ele deixou um bilhete em chinês pra mim.
Coloco no Google tradutor e diz:
São os nossos inimigos que nos ensinam as mais valiosas lições de vida.
Tô pensando até agora na mensagem.